Dra Esmeralda Carmo – A minha opinião enquanto ANESTESISTA:
É impressionante o número de pessoas que são operadas sem fazer a mínima ideia de quem é (foi) o seu médico anestesista (!?). Nem de o ver no bloco operatório se lembram … (efeito pós-amnésico da anestesia…)
O que não deixa de ser curioso, porque a maioria das pessoas tem medo, muito medo, principalmente de não acordar da anestesia…
Se tem medo, não será uma boa razão para se preocupar com a pessoa que lhe vai administrar a anestesia?
A verdade é que, apesar de todos os receios, a anestesia está entre as especialidades médicas, para não dizer as ciências mundiais, que mais tem evoluído ao longo dos últimos anos, apresentando uma folha de serviços verdadeiramente impressionante em termos de eficácia/bons resultados.
Uma boa maneira de compreender o se passa atualmente com a anestesia é compará-la com os aviões. Todos sabemos que há acidentes. Pior, todos temos consciência que, por mais progressos que haja, haverá sempre acidentes (embora, esperamos, em cada vez menor número). Contudo, se pensar no número de acidentes de aviação registados em relação ao número de voos diários em todo o mundo, é fácil perceber porque é consensual ser o avião o meio de transporte mais seguro que existe. Da mesma maneira, se pensar na quantidade de pessoas que são anestesiadas diariamente em todo o mundo e no número de acidentes registados, facilmente chegará também à conclusão que, embora emocionalmente possa ser difícil de aceitar, a verdade é ser mais provável sofrer um acidente sentado no sofá da sua sala do que deitado na mesa de operações.
Ideias como:
– a anestesia faz mal…
– muitas anestesias seguidas fazem mal…
– não se devem fazer mais de 3 anestesias por ano (ou durante toda a vida)…
– é preciso “vomitar” a anestesia …
estão completamente desatualizadas e ultrapassadas.
Não existe nenhuma prova científica que uma ou muitas anestesias façam mal ao coração, aos pulmões, à diabetes, à memória, à concentração, etc,etc, etc…
A verdade é que a anestesia tem as costas largas, demasiado largas…
Contudo, quer isto dizer ser indiferente a maneira como a anestesia lhe é administrada? Para evitar ser advogada em causa própria, remeto o leitor para a opinião do cirurgião.
Dr. Dinis Carmo – O ANESTESISTA do ponto de vista do CIRURGIÃO
O anestesista é uma peça fundamental e imprescindível da minha equipa de trabalho. Porque o trabalho do anestesista não se resume a pôr o doente “a dormir”… O anestesista não é um “adormecedor de doentes”… Mais importante do que pôr o doente a dormir no princípio é acordá-lo no fim.
Para além disso, uma boa qualidade do pós-operatório, em termos de bem estar e analgesia ( quer dizer: o controle da dor) depende de vários fatores, sendo um deles, e determinante, a capacidade técnica do anestesista.
Hoje em dia, está na ”moda” a cirurgia em ambulatório, quer dizer: uma cirurgia efetuada de maneira que o doente tem alta para casa no mesmo dia da operação. Este tipo de cirurgia só é possível se o doente tiver uma anestesia que lhe permita recuperar rapidamente e não tiver dores. O segredo mais uma vez reside na qualidade da anestesia administrada …
Outro aspeto muito importante é o relacionamento entre o cirurgião e os restantes elementos da equipa, começando pelo anestesista – porque a cirurgia não é um trabalho individual, é um trabalho de equipa.
E um bom entendimento entre todos os elementos dessa equipa é absolutamente fundamental para ser possível obter os melhores resultados para o doente.
Dou o exemplo do futebol: as seleções nacionais são feitas com base na convocação dos melhores e mais experientes jogadores. Contudo, qualquer adepto sabe não ser possível obter bons resultados sem treinos em conjunto, daí as convocatórias para os treinos da seleção. Para o resultado final, é provavelmente mais importante um bom entendimento das partes que grandes valores individuais sem sintonia de conjunto.
Será que um dos princípios básicos do futebol é dispensável na sala de operações?
Talvez, se o leitor acredita ser tecnicamente mais complexo meter uma bola numa baliza do que abrir um joelho e reparar um ligamento lesionado…
Regra geral, a escolha do meu anestesista é muito criteriosa. Para além de ser tecnicamente competente tem de ser um colega com conhecimento dos meus métodos de trabalho