Publicado na revista. Vida Económica. Ed. 1927, de 14 de abril 2022.
É um ditado muito antigo do nosso povo que um mal nunca vem só – desgraça atrai desgraça!…
Do ponto de vista ortopédico, a drástica diminuição da atividade física resultante do confinamento que nos foi imposto pela epidemia de covid, e o aumento da tensão psicológica condicionado pela presença da doença, agravou problemas específicos mesmo para aqueles que não foram contaminados.
É sabido que um dos problemas das sociedades modernas é o sedentarismo, ou, por outras palavras, a falta de atividade física. Este problema, que antigamente era predominante a partir da meia-idade, tornou-se nos dias de hoje um problema juvenil e até mesmo infantil, a partir do momento em que as crianças deixaram de brincar na rua, passando horas a fio, absolutamente estáticas, em frente à televisão ou do tablet.
As dores nas costas, por exemplo, são uma praga da espécie humana. Calcula-se que mais de metade da população mundial terá, ao longo da sua vida, pelo menos um episódio de dores nas costas suficientemente forte para interferir de maneira significativa com as suas atividades profissionais – eu, também já faço parte da estatística.
O ser humano, como se sabe, no decurso da sua evolução, teve uma atitude muito particular: pegou numa estrutura – a coluna vertebral – que à partida foi concebida para funcionar na horizontal apoiada em 4 pilares (leia-se “patas”) e, sem alterações estruturais significativas, levantou-se nos membros traseiros e assumiu a posição vertical: foi como transformar uma ponte num obelisco.
O exercício físico moderado e regular é fundamental para o condicionamento dos músculos que suportam a coluna e, como tal, as horas passadas da cadeira do computador para o sofá da TV e vice-versa são instrumentos da desgraça no que diz respeito a este problema.
Também não é novidade para ninguém, moderadamente informado acerca desta temática, que as dores nas costas podem ser induzidas pelo estado psíquico do indivíduo. Um exemplo bem conhecido é o caso dos estudantes que são acometidos por fortes dores nas costas antes do período dos exames. Pode-se argumentar que são as horas extra, passadas à secretária durante este período, que originam esta situação, mas todos os profissionais de saúde da área sabem que há algo mais…. Executivos submetidos a cargas elevadas de stress, pessoas com problemas familiares ou profissionais severos, são outros exemplos do que acaba de ser dito.
Naturalmente que, também sob o ponto de vista psicológico, a covid teve um efeito devastador num número assinalável de pessoas.
A solução passa por manter um nível aceitável de exercício físico mesmo quando confinado ou a fazer trabalho domiciliário. Na internet (nem tudo é negativo) é possível encontrar toda uma gama de programas de exercícios apropriados para serem feitos em casa mesmo sem qualquer tipo de aparelho extra.
Desta maneira podem ser evitadas não só as tenebrosas dores nas costas, mas igualmente muitos outros problemas do sistema músculo-esquelético e não só: tensão psicológica, diabetes, tensão alta, obesidade, níveis indesejáveis de colesterol e triglicerídeos, etc.,etc.